Aquela história de que depressão é só desequilíbrio químico e falta de serotonina não fecha a conta. Uma revisão sistemática de 2022 na Molecular Psychiatry analisou décadas de pesquisa.
A conclusão: não existe evidência consistente de que baixa serotonina ou atividade serotoninérgica reduzida cause depressão.
Hoje vamos mergulhar num modelo diferente. Um modelo que olha para a depressão não como falha química, mas como falha de adaptação do cérebro.
🔬 Além do Óbvio: O paradoxo dos antidepressivos
Se o problema fosse só repor serotonina, o alívio deveria ser quase imediato. Como tomar analgésico para dor de cabeça.
Mas não é isso que acontece na prática clínica. Três paradoxos desafiam o modelo convencional:
🔷 Paradoxo 1: A demora
Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), como Fluoxetina, Sertralina e Escitalopram, aumentam a serotonina em horas. Mas o efeito clínico demora de 3 a 6 semanas. Se o problema fosse falta de serotonina, a correção seria rápida. O atraso indica algo mais profundo.
🔷 Paradoxo 2: A piora inicial
⚠️ Muitos pacientes pioram nas primeiras semanas. A ansiedade e a insônia se agravam. O FDA (Food and Drug Administration - órgão regulador dos Estados Unidos) exige alerta de risco de suicídio em jovens nas primeiras semanas.
Se o remédio fosse um corretor químico simples, por que causaria piora antes de melhorar?
🔷 Paradoxo 3: Os não respondedores
📊 Cerca de 30% a 40% dos pacientes não respondem ao primeiro antidepressivo. Muitos não respondem a nenhum.
Meta-análises mostram taxas de resposta entre 47% e 69%. Se o medicamento atuasse na correção da deficiência química, deveria funcionar para todos com essa deficiência.
💡 A teoria da falta de serotonina não explica nenhum desses 3 paradoxos.
🔵 A virada de chave: o antidepressivo não é o tapa-buraco da serotonina
O antidepressivo provoca um estresse ao neurônio, que responde se fortalecendo, através de um processo chamado hormese.
❓O que é Hormese?.
🧪 Hormese é a resposta biológica a um estressor controlado. Aquilo que em dose alta faz mal, em dose certa fortalece.
Alguns exemplos clássicos:
🔹 Exercício: microlesões musculares seguidas de supercompensação e músculo mais forte.
🔹 Jejum: escassez temporária que aciona autofagia e limpa células defeituosas.
🔹 Frio: choque térmico que estimula mitocôndrias e melhora produção de energia.
🔹 Sol: radiação ultravioleta moderada que estimula vitamina D e adapta a pele.
⚖️ O segredo está na dose e na recuperação. Estresse agudo seguido de descanso gera crescimento. Estresse crônico sem pausa leva ao colapso.
🌍 Seu corpo não quer conforto eterno. O que não te mata te fortalece.
🔷🔶 A linha do tempo que explica tudo
O ponto central: mais do que “repor” serotonina, o que muda o quadro é o processo de adaptação que o cérebro é obrigado a fazer.

Todo o processo de hormese com sucesso dos antidepressivos pode levar de quatro a seis semanas.
O melhor cenário clínico é preparar o cérebro para aguentar o estresse e só então desafiar o neurônio.👇
🥑 Nutrição Fora da Curva: Dietas para o cérebro
Duas estratégias se destacam pelo seu potencial de ajuda no tratamento da depressão.
🔷 Dieta Mediterrânea
Entre outros estudos, uma meta-análise de 2024 reuniu 5 ensaios clínicos com 1.507 participantes. A dieta mediterrânea reduziu sintomas depressivos de forma significativa.
Foque em alguns pilares:
🔹 Azeite extra virgem como principal gordura.
🔹 Peixes gordos pelo menos três vezes por semana.
🔹 Vegetais variados em grande volume diário.
🔹 Oleaginosas todos os dias.
🔹 Ovos e carnes de boa procedência.
🔷 Dieta Cetogênica
🔥 Os corpos cetônicos cruzam a barreira hematoencefálica e servem de combustível alternativo para neurônios.
A evidência direta para depressão ainda é limitada, mas os benefícios em neuroproteção e resistência à insulina cerebral justificam o uso.

🔁 Você pode alternar períodos de padrão mediterrâneo e fases de cetose bem conduzida. Isso combina diversidade alimentar com flexibilidade metabólica.

🔹 Na edição PRO do último sábado, incluímos um guia digital ensinando o tratamento integrativo e funcional para a depressão. Garanta seu acesso aqui:
💊 Suplemento da Semana: Trio para neuroplasticidade
🔷🔶 Creatina (10g/dia)
Neurônios precisam de energia para criar novas conexões. A creatina aumenta a reserva de ATP cerebral.
Uma meta-análise de 2025 analisou 11 ensaios clínicos e encontrou taxa de remissão 3.6x maior que placebo. Divida a dose em duas tomadas ao longo do dia.
Você encontra creatina de qualidade aqui. Qualquer produto presente nessa página pode ser comprado com o cupom contraacorrente.
🔷🔶 Ômega-3 rico em EPA (1.500mg/dia)
Entre os ácidos graxos, o EPA tem o maior efeito antidepressivo. Uma meta-análise de 2019 reuniu 26 ensaios clínicos randomizados. Formulações com 60% ou mais de EPA mostraram redução significativa dos sintomas.
Garanta pelo menos 1.000mg de EPA na sua suplementação diária. Você encontra ômega e rico em EPA aqui.
🔷🔶 Curcumina + piperina (500-1000mg + 20mg)
A curcumina sozinha tem absorção limitada. A piperina, extraída da pimenta preta, aumenta a biodisponibilidade em até 2.000%.
Uma meta-análise de 2017 mostrou eficácia significativa na depressão. As diretrizes da WFSBP recomendam curcumina como adjuvante.
Você acha curcumina com piperina aqui e pode usar os cupons dindo ou contraacorrente.
🟠🔵 Alguns suplementos e nutrientes para a depressão
Suplemento | Dose | Alvo sérico |
|---|---|---|
Creatina | 10g/dia | — |
Ômega-3 (≥60% EPA) | 1.500mg EPA+DHA | Índice ômega-3 > 8% |
500-1000mg + 20mg | — | |
Rhodiola rosea | 200-600mg/dia | — |
Vitamina B12 | 1000-5000 mcg | 500-1000 pg/mL |
Metilfolato | 400-800 mcg | Folato 10-20 ng/mL |
Vitamina D | 2000-4000 UI | 50-80 ng/mL |
Homocisteína | — | < 8 μmol/L |
⚠️ Depressão é um quadro complexo, que precisa ser avaliado caso a caso. Não ajuste remédios, doses ou tratamentos por conta própria.
Sempre converse com um psiquiatra ou profissional de saúde mental antes de qualquer mudança.
🧠 Laboratório Neural: Preparando o cérebro
Três pilares fundamentais foram abordados em outras edições: Higiene do sono, manejo do estresse e treino cognitivo. Não deixe de ler e voltar para cá.
Com o cérebro nutrido, vamos partir para o desafio.
🧬 Estratégias e Biohacks — Hormese como princípio terapêutico
Três estressores controlados que aumentam a neuroplasticidade:
🔹 Frio ao acordar: Banho frio ou imersão em água entre 7-15°C por 30 segundos a 2 minutos. Ativa noradrenalina e dopamina. Comece devagar e aumente gradualmente.
🔹 Exercício polarizado: Alterne entre baixa intensidade (zona 2, 65-75% da FC máxima) 3-4x por semana e HIIT nas zonas 4-5 (85-100% FC máxima) 1-2x por semana. Esse tema já foi coberto aqui.
🔹 Calor ao fim do dia: Sauna a 80°C por 15-20 minutos, 3-4x por semana. Um ensaio clínico no JAMA Psychiatry mostrou que uma única sessão de hipertermia reduziu sintomas por até 6 semanas.

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🔹🔸 Comece hoje
1️⃣ Cheque sua capacidade de adaptação: Você está dormindo bem? Sua alimentação fornece os nutrientes que as mitocôndrias precisam? Seu estresse é crônico ou pontual?
2️⃣ Reconstrua o habitat e otimize: Sono de qualidade. Comida de verdade. Exposição à luz natural pela manhã. Suplementos quando indicados: magnésio, vitamina D, ômega-3, creatina.
3️⃣ Adicione estressores horméticos: Exercício (o mais validado). Exposição ao frio. Jejum intermitente. Comece pequeno.
🎨 A Favor da Beleza: A metáfora do zoológico
E se o caminho não for só consertar a química interna com comprimido, mas reconstruir o ambiente?
Trazer de volta os estresses bons na dose certa.
Garantir o combustível metabólico que o corpo precisa.
Alinhar o estilo de vida com o que a biologia espera.
Talvez a verdadeira cura seja encontrar um jeito de escapar do zoológico moderno.
Vamos fechar a edição hoje com uma pérola do final do milênio passado que rola muito nos stories do meu Instagram. Castle in The Air com Don MacLean.
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Até a próxima edição!
Dr. Christian Aguiar - Contra a Corrente
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💎 Referências principais:
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